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Mostrando postagens de 2018

A generosidade do Natal!

Depois de algum tempo de busca espiritual, nos deparamos com o Natal em sua divina-humanidade.  Cada vez que nos debruçamos a entender o que há de divino no Natal, encontramos nele a humanidade.  Trata-se da história de um homem que se manifesta em sua completa finitude, em sua mais pura humanidade. Aquele que é o centro das opulentas atrações natalinas nasceu pobre, mendigo, forasteiro e desamparado. O que há de divino nisso? Nada, se considerarmos como divino algo sobrenatural. Diariamente nascem milhares de crianças em circunstâncias parecidas e até piores. O menino que hoje celebramos não veio para ser um monarca poderoso, com muitos bens e reinos, veio para ser servo, humilde e simples.  O Deus Cristão é o Deus-Homem, humano, finito. Este Deus se fez o menor de todos, se fez frágil, pequeno... se fez menino...  Um menino como qualquer outro, que sentiu fome e chorou, que mamou, que teve todas as necessidades de qualquer pessoa, que perdeu seus dentinhos d

Prezar os que nos maltratam – Oito Versos que Mudam a Mente - Quarto Verso

No caminho espiritual temos de entender que tudo que nos acontece tem alguma finalidade prática, mesmo que não compreendamos ao certo o que e por quais motivos as coisas ocorrem. Em alguns casos, os acontecimentos têm uma função de liberação do carma negativo e preparam a mente para os próximos passos necessários à liberação. As formas de agir de muitos mestres do passado que tentavam encaminhar seus alunos pela senda da liberação, principalmente os que utilizam métodos relacionados ao trabalho exaustivo, seriam consideradas inadequadas por ocidentais do presente, principalmente por sermos mais frágeis, incapazes de compreender o processo de purificação. Há, portanto, uma característica de purificação nas coisas que nos acontecem no dia-a-dia.  É muito comum que em nossas atividades ordinárias sejamos importunados, é comum ainda que sejamos desprezados e que sejamos maltratados. Contudo, com a mente treinada temos condições de não nos afetarmos com tais importunações e e

Ignorância, apego e raiva - Oito versos que mudam a mente – Terceiro verso

Continuando o estudo dos oito versos que mudam a mente, chegamos ao terceiro verso. Neste verso nos deparamos com o risco de sermos levados por emoções aflitivas ou emoções negativas.  Gostaria de, neste item, explorar as três principais emoções negativas, ou venenos, que nos prendem ao ciclo sansárico. Quando nos aproximamos da iconografia tibetana e temos acesso à Roda da Vida, ícone que ilustra este texto, percebemos ao centro os três animais que simbolizam o início do ciclo do sansara: o javali, o galo e a cobra. O javali representa a ignorância. A ignorância é a primeira emoção aflitiva, ela surge da incapacidade que temos de reconhecer a verdade não dual, surge da incapacidade de não reconhecermos a natureza pura da mente. Somos ignorantes sempre que acreditamos que estamos certos de algo. Somos ignorantes sempre que temos certeza de que as coisas são estáveis e permanentes. Somos ignorantes sempre que decidimos que algo está certo e algo está errado. A ig

As incomensuráveis - Oito versos que mudam a mente - Segundo verso

--> A mente búdica pressupõe a prática da compaixão em sua união com a vacuidade. Tal experiência pode ser compreendida no universo de qualidades incomensuráveis apresentadas pelo Bodhisatwa Cherenzig (Budha da Compaixão), quais sejam apresentadas como Amor, Compaixão, Equanimidade e Alegria. Para todos os momentos e todos os seres, devemos em tudo aplicar as quatro incomensuráveis, independente de onde estamos ou do que fazemos. As incomensuráveis nos mostram que para atingir a mente búdica é necessário desenvolver por cada um e por todos os seres, de modo livre, sem raiva, apego ou ignorância, um sentimento de imensa conexão e devoção. Para o budismo, o universo não teve começo e não terá fim. Os elementos que o compõe são e serão os mesmos, mantendo-se uma continuidade essencial entre todas as coisas que num momento se apresentam de uma forma e logo mais de outra, passando por constantes transformações. Há, portanto, uma constante impermanência na aparê

A importância do outro - Oito versos que mudam a mente - Primeiro verso

O mestre Tibetano Geshe Langri Tangpa (1054-1123), considerando as oito preocupações mundanas, elaborou um breve e profundo ensinamento em 8 versos. Estes versos servem para nossa meditação diária, apoiando nossas pequenas ações e ensinando-nos a lidar com os outros. Tradicionalmente chamamos este ensinamento de: 8 versos que mudam a mente. Antes de entrar no primeiro verso, é necessário considerar que as 8 preocupações mundanas são: 1 - Querer ser elogiado; 2 - Não querer ser criticado; 3 - Querer prazer; 4 - Não querer dor; 5 - Querer ganhar; 6 - Não querer perder; 7 - Querer ser reconhecido; 8 - Não querer ser ignorado. A apresentação dos 8 versos permite que a cada dia possa ser analisado um deles e de sua análise possa surgir a prática espiritual. A prática espiritual proposta pelo budismo se dá em 4 níveis e desta forma cada verso precisa ser aplicado. O primeiro nível é a lucidez comportamental. Pelo nível comportamental mudamos nossas ações diárias de modo q

Mística

Definitivamente não é um tema fácil de abordar. Mas vamos iniciar pela compreensão de mística. A palavra mística vem do termo grego “myo”, que significa nada menos que mistério. Este mistério se encaminha por algo próprio, que não tem como foco a revelação, ou seja, não se trata de um mistério que deva ser desvendado ou revelado por alguém. O mistério, de onde provém a mística, é sempre oculto e inalcançável. Deste modo, não conseguimos falar o que é a mística propriamente dita, mas sim ficar as voltas, tentando ao menos perceber a presença do mistério. O cristianismo é repleto de místicos, de pessoas que viveram uma experiência íntima  com a divindade. Porém, na tentativa de dizer o que é esta experiência se traem e não conseguem apresentar o mistério que experienciam. Desta forma, a experiência mística com o sagrado é sempre inexprimível, trata-se de algo que só se conhece experimentado. O Budismo tem esta experiência como o espaço treinamento da mente. Somente quem p

Nobreza de Costumes

No período medieval, a nobreza não estava somente ligada a quem fazia parte de um grupo seleto de nobres, isto é, uma aristocracia, um clã, uma gesta. A nobreza não estava restrita aos parentes ou amigos do rei, àqueles quem tinham o sangue azul. Ser nobre era antes de tudo possuir um imenso grupo de qualidades pelas quais o homem demonstrava seu verdadeiro valor na sociedade. A “Nobreza de costumes” é o melhor termo para identificar este fenômeno. Quando falamos em nobre, neste contexto, queremos apresentar uma identidade não jurídica, mas existencial, o modo de ser daquele que tem postura nobre, daquele que é naturalmente nobre. Ser nobre é dar sentido a tudo que se faz, é não se desgastar, ou gastar a vida, com coisas pequenas, é estar aberto às discussões sem deixar-se vencer pela passionalidade, é falar o que tem de ser dito, é não perder a postura diante das adversidades da vida. Ser nobre é antes de tudo ter um modo próprio de agir e fazer o que deve ser feito. A nobreza t

Alquimia

Muito falamos sobre a alquimia, mas de modo algum chegamos ao cerne daquilo que ela realmente é. Podemos simplesmente falar acerca dela, como que girando ao redor dela e analisando seus vestígios. Sabemos que cada alquimista tinha seu laboratório. Assim, vamos partir do espaço de seu trabalho para tentar compreender como ou o que era a alquimia. A palavra laboratório vem da união de duas palavras latinas “labor” , que significa trabalho, serviço, ação; e a palavra “oratio”, raiz do termo que hoje se difunde como oração. Portando, o alquimista é propriamente um religioso, que em seu fazer desenvolve, ao mesmo tempo, trabalho e oração, ou seja, para ele não há distinção entre o fazer e o orar, ambos dizem o mesmo. Deste modo, o trabalho do alquimista é a oração e a oração é seu trabalho. Todo alquimista se apresenta como um sacerdote para si, um mediador entre as coisas visíveis e as coisas invisíveis, passando toda a sua vida em busca de concluir a “grande obra”. Mas o que