Pular para o conteúdo principal

Nobreza de Costumes


No período medieval, a nobreza não estava somente ligada a quem fazia parte de um grupo seleto de nobres, isto é, uma aristocracia, um clã, uma gesta. A nobreza não estava restrita aos parentes ou amigos do rei, àqueles quem tinham o sangue azul. Ser nobre era antes de tudo possuir um imenso grupo de qualidades pelas quais o homem demonstrava seu verdadeiro valor na sociedade. A “Nobreza de costumes” é o melhor termo para identificar este fenômeno.
Quando falamos em nobre, neste contexto, queremos apresentar uma identidade não jurídica, mas existencial, o modo de ser daquele que tem postura nobre, daquele que é naturalmente nobre.
Ser nobre é dar sentido a tudo que se faz, é não se desgastar, ou gastar a vida, com coisas pequenas, é estar aberto às discussões sem deixar-se vencer pela passionalidade, é falar o que tem de ser dito, é não perder a postura diante das adversidades da vida. Ser nobre é antes de tudo ter um modo próprio de agir e fazer o que deve ser feito. A nobreza tem a ver com essa sutileza. Ser nobre é ser sutil em tudo que se faz.
Hoje, vemos diversas correntes de psicologia que tentam mostrar a necessidade de dar sentido à vida. A logoterapia, uma das mais recentes, apresenta a solução de nossos problemas a partir da discussão de ideais. Doenças modernas, como a depressão, crescem cada vez mais, pois o homem hodierno não tem coragem de assumir grandes ideais, o homem moderno tem dificuldade de dar sentido para sua vida. Todos os sonhos do homem moderno se voltam para o capital, para a carreira profissional ou para o acúmulo de bens, contudo isso não garante a integridade interior, pois não confere uma razão para a vida. Se a existência não tem um sentido claro, tudo passa a ser inútil e obscuro. Por isso, a “nobreza de costumes” pode ser uma proposta para a modernidade, uma proposta de encontro a partir de si mesmo.

Ser nobre é ter nítido o que se deseja para vida, é seguir, a que não importa, o que importa é o fazer-se discípulo. O discipulado é um processo de entrega, onde o mestre passa a definir os pormenores da vida daquele que escolheu dedicar-se a uma tarefa. O discípulo sabe aprender dos mestres, sabe ouvir e falar, tudo num tempo correto. O verdadeiro discípulo, por essência, é nobre e somente sua nobreza pode impeli-lo a ser bom discipulado. Quanto mais nobre for o discípulo, mais próximo, afetivamente, o discípulo se torna do mestre e mais próximo estão ambos do ideal.
A Nobreza é também uma união de modos, formas e maneiras de tratamento, porém sem falsidade, o “nobre de costumes” não se faz bom para se aproximar, não se faz cortês para conseguir seu interesse material, o que hoje acontece frequentemente. O “nobre”, lembrando que falamos de um medieval, é inteiro naquilo que faz, jamais faz dois papéis.
“Nobre” talvez fosse o título maior a ser dado, porém poucos tinham no sangue esta “nobreza de costumes”. A nobreza, neste sentido, não é hereditária, é propriamente um valor adquirido e vivenciado numa época toda especial.

Comentários

Anônimo disse…
Admiro muito tudo que escreve, já que muito do que pensa e informa está consoante com as coisas em que acredito.Há que resgatar valores, ideais, para os jovens.É preciso que encontrem novamente a nobreza, pois só assim poderemos pensar em subsitir enquanto humanos.Procuro sempre trabalhar filmes textos em que fique claro o sentido que a morte pode ter.Vide El Cid! Parabéns por seus textos, dos quais serei leitora freqüente.
Eloisa Helena
Anônimo disse…
Rô Torquato
Este texto é muito profundo, pois nos remete ao nosso interior, aquilo que realmente acredito, em ser vc mesmo,ter uma nobreza real, ante a tudo o que vemos atualmente.Acredito que vivendo isso a cada dia poderemos viver com qualidade, viver em totalidade, mesmo diante de tantos obstáculos que surgem, sendo assim somos inteiros.Este texto veio num momento muito importante para mim e com certeza fez toda a diferença, acreditar que ainda existem pessoas com reais valores, e na verdade eu sei que existem.
Obrigado pelo espaço, e pela oportunidade de poder ter acesso a leituras de qualidade. Abraço. RÔ.
Anônimo disse…
legal, gostei do seu blog, não li tudo ainda, mos volta aki terminar

abraços
F0nt&n&((& disse…
Interessante,gosto do que você escreve sobre a Idade Medieval. Sábias as nobrezas de costumes,e mais sábios aqueles que a seguiam
Anônimo disse…
Gostei muito do seu texto. Sou professora de História e concordo com tudo o que disse. Fique bem e continue com os seus maravilhosos textos.

Postagens mais visitadas deste blog

Divindade e Humanidade de nosso Deus

Mais um ano se encerra, mais um Natal se aproxima. Neste ano observamos o crescimento de uma fé num Deus triunfante, um Deus-Rei que mora longe. Surge um Deus que se manifesta na emoção do louvor e na efusão da pregação. Mas e o Deus-Homem Jesus Cristo? Para onde foi? Aquele homem que nasceu pobre, viveu entre os menos abastados, que foi simples, para onde ele foi? A experiência da fé em um Deus-Homem parece se perder. Surge uma fé no extraordinário. Surge uma fé em um Deus individual que não se manifesta no outro. Se o cristianismo primitivo considerava a manifestação de Deus no outro, sendo a comunidade o ponto central, essa nova forma de fé trata de um Deus que se manifesta individualmente para cada um. Um Deus do indivíduo... Lentamente a perspectiva da comunidade parece se perder. Sem comunidade, não há cristianismo. Com a falta da perspectiva da comunidade, começamos a não reconhecer o outro como tal e perdemos de vista as necessidades e peculiaridades de cada

As incomensuráveis - Oito versos que mudam a mente - Segundo verso

--> A mente búdica pressupõe a prática da compaixão em sua união com a vacuidade. Tal experiência pode ser compreendida no universo de qualidades incomensuráveis apresentadas pelo Bodhisatwa Cherenzig (Budha da Compaixão), quais sejam apresentadas como Amor, Compaixão, Equanimidade e Alegria. Para todos os momentos e todos os seres, devemos em tudo aplicar as quatro incomensuráveis, independente de onde estamos ou do que fazemos. As incomensuráveis nos mostram que para atingir a mente búdica é necessário desenvolver por cada um e por todos os seres, de modo livre, sem raiva, apego ou ignorância, um sentimento de imensa conexão e devoção. Para o budismo, o universo não teve começo e não terá fim. Os elementos que o compõe são e serão os mesmos, mantendo-se uma continuidade essencial entre todas as coisas que num momento se apresentam de uma forma e logo mais de outra, passando por constantes transformações. Há, portanto, uma constante impermanência na aparê