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Alquimia




Muito falamos sobre a alquimia, mas de modo algum chegamos ao cerne daquilo que ela realmente é. Podemos simplesmente falar acerca dela, como que girando ao redor dela e analisando seus vestígios.
Sabemos que cada alquimista tinha seu laboratório. Assim, vamos partir do espaço de seu trabalho para tentar compreender como ou o que era a alquimia. A palavra laboratório vem da união de duas palavras latinas “labor” , que significa trabalho, serviço, ação; e a palavra “oratio”, raiz do termo que hoje se difunde como oração. Portando, o alquimista é propriamente um religioso, que em seu fazer desenvolve, ao mesmo tempo, trabalho e oração, ou seja, para ele não há distinção entre o fazer e o orar, ambos dizem o mesmo. Deste modo, o trabalho do alquimista é a oração e a oração é seu trabalho.
Todo alquimista se apresenta como um sacerdote para si, um mediador entre as coisas visíveis e as coisas invisíveis, passando toda a sua vida em busca de concluir a “grande obra”. Mas o que é a “grande obra”? Seria a transmutação do chumbo em ouro? Ou então o encontro da pedra filosofal? Quando falamos em alquimia estamos falando das duas coisas. Se nos aprofundarmos mais neste estudo vamos perceber que ambas falam do mesmo. A “grande obra” se apresenta como um processo de transformação, como o caminho da transmutação. A transmutação física de uma coisa em outra, partindo de uma atitude interior, de uma transformação interna que vai culminar com a metanóia (conversão) do próprio alquimista.
Alguns alquimistas apresentam as fazes de sua transmutação pessoal, mostrando uma escalação de momentos interiores até chegar a grandeza da transformação exterior. Toda a vida alquímica é uma busca pela completa transformação do homem velho no homem novo. O grande alquimista é aquele que consegue fazer-se, a partir de si mesmo e de suas forças, um homem novo. Muitos no decorrer de sua vida entendem que a “grande obra” consiste em transformar o homem-chumbo que se é no homem-ouro que todos almejam ser.
Nesse processo, os tratados alquímicos falam de três estágios. O primeiro é o Negredo, onde o homem se encontra denso, sem purificação, momento em que ele trabalha o metal chumbo e o homem-chumbo. O segundo estágio é o Albedo, momento em que o alquimista começa a distinguir as coisas, está associado ao elemento água, que representa sua a purificação e limpeza. Por fim, o terceiro estágio, o Rubedo, neste estágio o alquimista se encontra com o metal ouro e faz a síntese interna de toda sua obra. No Rubedo o alquimista percebe-se transmutado no homem novo.
Hoje a alquimia passa a ser vista num aspecto mágico e taumaturgico, mas não era esta a única expectativa que os alquimistas tinham de seu trabalho. O pai da alquimia, o Trimegisto, mostrava que o encontro da esmeralda se dá na busca humana de auto-lapidação para a transformação no melhor humano que se pode ser.

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