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A mente búdica pressupõe a prática
da compaixão em sua união com a vacuidade. Tal experiência pode ser compreendida
no universo de qualidades incomensuráveis apresentadas pelo Bodhisatwa Cherenzig
(Budha da Compaixão), quais sejam apresentadas como Amor, Compaixão,
Equanimidade e Alegria.
Para todos os momentos e todos os
seres, devemos em tudo aplicar as quatro incomensuráveis, independente de onde
estamos ou do que fazemos.
As incomensuráveis nos mostram que
para atingir a mente búdica é necessário desenvolver por cada um e por todos os
seres, de modo livre, sem raiva, apego ou ignorância, um sentimento de imensa
conexão e devoção.
Para o budismo, o universo não teve
começo e não terá fim. Os elementos que o compõe são e serão os mesmos,
mantendo-se uma continuidade essencial entre todas as coisas que num momento se
apresentam de uma forma e logo mais de outra, passando por constantes transformações.
Há, portanto, uma constante impermanência na aparência de todas as coisas, porém
há algo que continua sendo o mesmo, independente de como cada coisa apareça. Assim,
entre aquilo que permanece e aquilo que de várias formas se apresenta, temos a
interdependência de todas as coisas.
Se o universo sempre existiu e o que
muda de modo impermanente são somente as aparências, logo, em essência, sempre estivemos
conectados com todos os seres. Nessa reflexão, em nossas incotáveis vidas todos
os seres em algum momento foram nossos pais e nossas mães. Como nossos pais e mães cada ser nos concedeu, ao menos uma vez, o bem mais precioso que é vida.
Nesta reflexão chegamos a nossa
existência atual, o nascimento humano precioso. Como humanos podemos ter consciência
de tudo isso e considerar cada ser como aquele que nos concede a vida hoje. Com
tal sabedoria, podemos reconhecer no outro a interdependência essencial e a
partir dai considera-lo à luz das quatro incomensuráveis.
Se cada ser foi em algum momento aquele
que nos concedeu a vida, não há outro sentimento mais adequado a eles que o amor
e a compaixão. Podemos ter problemas com nossos pais nessa vida, mas não há dúvida
que um sentimento de gratidão e devoção se mantém quando valorizamos nossa
existência humana. O amor e a compaixão gerados por considerarmos todos os
seres como nossos pais e mães e a consideração de que as aparências deste momento
são impermanentes e todos morrerão, assim como todos nasceram, nos faz
compreender a qualidade da equanimidade.
De modo equânime devemos agir para com
todos os seres, oferecendo a cada um deles o que é necessário, porém
considerando que são diferentes. Assim, com equanimidade consideramos que todos nascem
e todos morrem, mas que durante as aparências desta vida precisam de coisas
diferentes, nossa alegria deve concentrar-se em oferecer condições de que cada
um, onde estiver, possa acessar tais elementos.
Por fim, agir com amor, compaixão e
equanimidade gera em nós alegria imensa. Essa alegria tem a ver com a
serenidade de ver outro satisfazendo-se com nossas ações. Sempre que geramos
alegria, nos tornamos mais alegres, alcançando mais e mais a capacidade de possuir
as incomensuráveis.
Diz o segundo verso que muda a
mente:
2. Sempre que estiver na companhia
de outras pessoas, vou aprender
A pensar em minha pessoa como a mais
insignificante dentre elas,
E, com todo respeito, considera-las
supremas
Do fundo do meu coração.
Com a apresentação feita até aqui podemos compreender com mais facilidade o que sustenta o segundo
verso. Contudo, o verso chama a atenção para um elemento primordial,
todo esse sentimento precisa ser verdadeiro e surgir “do fundo do coração”. Ou
seja, tal sentimento precisa ser desenvolvido de forma subjacente, marcado efetivamente não nossa simples aparência, mas mudando aquilo que permanece. Assim, se subjacente, essencial, sem
direcionamento ou interesse mundano, surge como possibilidade de iluminação.
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